Tinha um currículo invejável. Os melhores cursos, os melhores veículos. Numa disputa com outros jornalistas, Roger S. Pereira certamente levaria a melhor, não fosse por um detalhe:
_ E aí? Você é amigo de quem?
_ Como assim “amigo de quem”? Não estou entendendo, pergunta Pereira para editor daquele jornal.
Sem ouvir uma resposta convicente, Roger pegou a cópia de seu currículo, se levantou e saiu a toda pela porta - sem o emprego.
Não conseguia entender as razões para não ter sido escolhido. Aquele pergunta ficava batendo em sua cabeça: “você é amigo de quem? Você é amigo de quem? Você é amigo de quem?”
_ Amigo de quem? Porra, acabei de chegar na cidade. Vou ser amigo de quem?
Aquilo o incomodava. Mas resolveu esquecer. Afinal, aquele jornal não era o único veículo de comunicação da cidade e Roger estava apenas começando sua peregrinação. A próxima entrevista de emprego seria no jornal concorrente.
_ Puxa, Roger! O seu currículo é simplesmente fantástico. Você fez cada curso! Bom, confesso para você que esse é o melhor currículo que apareceu aqui nos últimos meses!, disse o editor executivo daquele outro jornal.
Roger apenas ouvia a rasgação de seda. Como era de seu costume, mantinha-se preso a sua grande modéstia. Só que daquela vez, sentiu um imenso prazer. Seu currículo ganhou o jogo. Será?
_ Mas Roger, com esse currículo fantástico, só me diz uma coisa: você é amigo de quem, hein?
Roger não tinha resposta. Estava paralisado por ouvir mais uma vez aquele maldita pergunta. Claro, a falta do quesito “amigos” no currículo tirou mais uma chance de Roger. O choque provocado dessa vez o fez repensar a estratégia na busca por um emprego. Resolveu cancelar as visitas que tinha naquele dia e foi para casa.
Roger S. Pereira só saiu de casa para as entrevistas de emprego três semanas depois. Parecia mais confiante.
_ E então Roger, você trouxe o seu currículo?, perguntou o diretor de redação de uma revista local, primeiro lugar visitado por ele.
_ Claro.
_ Puxa, não precisa dizer mais nada. O emprego é seu.
_ Obrigado, diz Roger, colocando sua agenda telefônica de volta na pasta.
P.S.: Este é um texto de ficção escrito por Alexandre Gonçalves, há mais ou menos 5 anos. Qualquer semelhança com pessoas ou acontecimentos reais é pura coincidência. Acreditem!!!
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