VNP #3 - Coluna Extra

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

VNP #3

))) Vinil No Prato (((
Lembranças e pequenas crônicas sobre discos de vinil

# 3 Ano 1 janeiro 2004

Passei por cada papel... A notícia de uma nova confusão envolvendo o RPM, divulgada em dezembro, me fez lembrar a lição de economia que ganhei ao comprar o primeiro vinil da banda, aquele de capa amarela. Explico. O RPM estava começando a estourar com “Loiras Geladas” e “Rádio Pirata”. Vi o disco em promoção na Fabi Discos do ARS, aqui em Florianópolis, por 40 cruzados. Beleza. Estava de férias na praia. No dia seguinte, a turma toda iria para o centro ver um filme. Aproveitei e peguei um adiantamento da minha mesada comprar o disco ainda na promoção. Dinheiro no mão, chego na loja e surpresa: a disco havia saído da promoção e agora custava o dobro. Estava desistindo da compra, mas um primo insistiu para me emprestar o restante para eu levar o disco. Resisti, mas acabei aceitando. Levei o disco. E quando cheguei em casa, levei uma mijada (leia-se: uma lição de economia...) do meu pai. “Dinheiro emprestado? E como é que você vai pagar o empréstimo?”. Fez sentido. Ele pagou.

Aceitei, me engajei... Acabei de ler a biografia autorizada dos Paralamas do Sucesso, escrita pelo jornalista Jamari França. A leitura é difícil. O texto é muito largado e parece um grande clipping tamanha a quantidade de citações de reportagens publicadas sobre a banda. Sem contar imprecisões e erros grosseiros como dizer que RPM, a banda, quer dizer Rotações Por Minuto, quando, na verdade, é Revoluções Por Minuto, e que a música da Plebe Rude que tira sarro de Herbert Vianna é “Até Quando Esperar”, sendo que a música correta é “Minha Renda”. Bom, de todo o modo o livro me fez buscar na memória o meu primeiro vinil dos Paralamas: Selvagem? Não lembro bem o que me levou a comprá-lo. Acho que gostava de “Melô do Marinheiro”. Mas acho que a motivação era ter o disco antes de um primo que tinha o clássico O Passo de Lui, o segundo da banda e tão bem sucedido quanto o primeiro do Ultraje em termos de quantidade de discos. Fora essa competição entre primos, Selvagem? é um disco realmente interessante. “Alagados”, “Selvagem”, “O Homem”, “A Dama e o Vagabundo”, “A Novidade” e “Melô do Marinheiro”, que se não salvaram o rock brasileiro, pelo menos abriram muitas portas por onde passaram bandas bacanas como Chico Science e Nação Zumbi, por exemplo.

Oh, oh, oh, feelings... “Mamãe (era assim que eu ainda a chamava) queria me agradar. Comprou um toca-discos Telefunken com uma tampa de acrílico transparente que parecia um aquário emborcado. E vejam o que é tecnologia de ponta: a agulha tinha uma almofadinha minúscula, com uma flanelinha que ia na frente limpando os sulcos do vinil. Mas que grande sacada! Um compacto com aquele rótulo do meio amarelo foi o meu primeiro disco. Ali pude ler: ‘Feelings’, Moris Albert. Apesar do nome abestado o cara era um brasileiro e morava nos EUA. Fez um sucesso danado com apenas uma música e sumiu. Por onde anda Moris Albert? O Fantástico pirava na do cara. Depois, mais crescidinho, meu primeiro salário de office-boy virou a primeira prestação de um Polivox Black'n Beautiful cheio de luzinhas. Todos os discos dos Titãs, Barão Vermelho, Paralamas, Capital Inicial, Plebe Rude, Hojerizah, Zero, Ultraje, Lobão, Zero e até mesmo os bostas do RPM, me mantinham durango o resto do mês. E era bom.” (Frank Maia, chargista e ilustrador, Florianópolis).

Adendo... “Muito bom, especialmente o depoimento do Marcelo Tonelli (VNP #2), desencavando o Musical Youth. Só faltou dizer o seguinte: a tal música que ele cita (‘Pass The Dutchie’), o grande hit dos neguinhos, é uma versão de ‘Pass The Kutchie’, dos Mighty Diamonds. O original é um clássico maconheiro (kutchie é um tipo de cachimbo); a versão trocou as referências à erva por comida (‘how do you feel when you got no food...’).” (Emerson Gasperin, jornalista, Florianópolis, que entre outras funções, foi editor-chefe da saudosa revista Bizz).

Na lembrança... “Só tem homem feio aí?”(pergunta de Paulo Ricardo, na introdução de “Loiras Geladas”, o primeiro hit do RPM).

Na estante... Para quem quer saber em detalhes a trajetória do rock brasileiro dos anos 80, a melhor opção é “Dias de Luta”, do jornalista Ricardo Alexandre. Bem escrito, ótimos depoimentos. Vale o investimento. A editora é a DBA.

(Textos originalmente escritos para o blog Vinil No Prato, que saiu do ar depois de trocentas tentativas de acesso ao Blogger-Globo.com. O blog se foi, a idéia ficou...)

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