Coluna Extra: julho 2004

quinta-feira, 29 de julho de 2004

A sinceridade é azul (e branca)

Sou torcedor do Avaí. Freqüentei o Adolfo Konder, estive na inauguração da Ressacada, acompanhei o time na Segundona estadual, publiquei artigo em jornal criticando dirigentes, fui sócio, editei a revista dos 75 anos do clube, batizei meu time botão de Peladeiros do Avaí. Tudo isso, somado ao fato de que vou a praticamente todos os jogos do time na Ressacada (incluindo os últimos: o empate com o São Raimundo e a derrota para o Caxias), me dá um know-howzinho para escrever com todas as letras e com toda a sinceridade (com a razão e com o coração) que:

O Avaí ainda não está preparado para subir para a série A do Campeonato Brasileiro.

E não é porque o Figueirense faz uma boa campanha que afirmo isso. É por acreditar que seria muito cruel para a torcida ver o time subir para a série A num ano e descer no ano seguinte. É isso o que vai acontecer simplesmente porque o time não tem estrutura para suportar a ascensão. É uma questão de cultura. Culturalmente, o Avaí não é um time talhado a modernização. E não falo aqui de aplicar os mesmos conceitos aplicados no Figueirense. São culturas diferentes. Lá no Estreito, o clube chegou ao fundo do poço e, a seu modo, encontrou uma fórmula para mudar.
O Avaí parece viver num atoleiro. É o reflexo da Ressacada e de todo terreno ao redor: inacabado. E outra coisa: pelo perfil do Avaí, a mudança se torna ainda mais complicada. O território azul e branco não é lugar para alguém cair de pára-quedas e querer mudar a cultura, a forma com que as coisas podem e devem acontecer. Lá, não é o meio que se adapta ao homem, mas sim o homem que se adapta ao meio (trazer o técnico Roberto Cavalo tem muito disso. Ele já sabe como as coisas funcionam...).
E para quem pensa que estou jogando contra meu próprio patrimônio, quero deixar claro que escrevo tudo isso por amor ao time. Cresci indo com meu pai ao Adolfo Konder e meu filho cresceu indo comigo à Ressacada. É pelo meu filho Vitor que escrevo isso. Já escrevi uma vez que queria que meu filho tivesse apenas um time, o Avaí, e que não entrasse nessa de adoração por times de fora da nossa cidade. Mas perdi essa ilusão; não há como frear o interesse dele por outros clubes (aos seus dez anos, ele ainda é mais Avaí, mas torce com interesse também pelo São Paulo).
Sempre dizem que é fácil criticar. Difícil é apontar soluções. A melhor, no momento, é abrir as portas da Ressacada para que a torcida se manifeste. É aquela coisa de zerar tudo. Já há um grupo de torcedores que tem se mobilizado para ajudar o clube, mas o problema exige algo mais amplo. Que seja uma grande reunião, uma assembléia, um seminário. Qualquer coisa que abra espaço para que novas idéias possam surgir em favor do Avaí Futebol Clube.

quarta-feira, 28 de julho de 2004

Globo Repórter em picadinhos

Não foi por acaso que o Globo Repórter se tornou um dos programas mais chatos da TV brasileira. O perfil do programa sucumbiu ao perfil adotado pelos telejornais diários da Globo nos últimos meses, onde a “série de reportagens” parece ter virado a mania do momento.

“Na série de reportagens que o Jornal Nacional começa a exibir a partir de hoje...”
“Os dez anos da conquista do Tetra é o tema da série de reportagens que o Globo Esporte começa a exibir a partir de hoje.”
“O Mapa do Emprego no Brasil é o tema da série de reportagens que o Jornal da Globo mostra ao longo desta semana.”


Eu sinceramente não vejo grandes coisas nessas reportagens picadinhas dos telejornais da Globo. Se partem de um bom gancho, as reportagens se perdem ao longo da semana, esfriam. Ficam parecendo penduricalho. Na primeira reportagem exibida, o telespectador presta atenção. Nos outros dias, passa batido. E não há vinheta que dê jeito. Se a intenção é fidelizar o telespectador, não vejo que essa seja a melhor estratégia. Por que não produzir uma grande reportagem para exibir num programa específico, como era o caso do Globo Repórter de antigamente?
O Jornal da Band também embarcou nesse esquema da “série de reportagens”.

terça-feira, 27 de julho de 2004

Ficar na Ilha

As pontes caíram
Os barcos à deriva

Aeroporto fechado
E as baías poluídas

Não há outra saída
A não ser
Ficar na Ilha


Diante do “Rancho de Amor à Ilha”, hino da cidade escrito pelo poeta Zininho, ou de qualquer música de Luiz Henrique Rosa que fale de Floripa, “Ficar na Ilha” não passa de uma tentativa pretensiosa de tratar do assunto. Mas é a letra de uma música que escrevi depois de uma conversa onde usei todos os argumentos tradicionais para explicar o motivo de querer ficar na Ilha. A pessoa não se convencia. Aí resolvi apelar para motivos concretos, digamos assim.

Mergulhado na Ilha

Depois que escrevi aquela nota sobre as afinidades entre os blogs aqui de Floripa, que falam de aspectos relacionados aos bons tempos da cidade, acabei me dando conta de que nos últimos anos meus projetos pessoais têm em comum o fato de que todos estão focados na Ilha onde nasci, cresci e vivo.
Tudo começou entre 2002 e 2003, quando mergulhei na produção do livro Aventura Arqueológica na Ilha de Santa Catarina, que lancei no final do ano passado em parceria com meu compadre Victor Carlson. O livro trata do patrimônio arqueológico da Ilha de Catarina. E no meu caso a ficha que caiu foi a de que os sambaquis, as inscrições rupestres e as oficinas líticas fazem parte da história da minha cidade e eu nunca tinha prestado muita atenção na existência deles.
Isso mexeu com meus brios de manezinho do Morro da Mariquinha!!! E morando há três anos na Costa de Dentro, aqui no Pântano do Sul, vendo o mar todos os dias, almoçando na Armação, caminhando até a praia da Solidão, meu interesse em contribuir no resgaste e na valorização de coisas da Ilha aumentou 200%. Tanto que atualmente, estou finalizando um novo projeto em parceria com o Victor e tenho outros dois em desenvolvimento que também tem a Ilha como pauta.
Agora, com licença, que vou garantir meu peixe frito com pirão d’água.

segunda-feira, 26 de julho de 2004

domingo, 25 de julho de 2004

:)))))))))))

Estou rindo até agora do que acabei de ver na transmissão do jogo entre Brasil e Argentina na final da Copa América.
O placar estava 1 a 1. Assim que os argentinos marcaram o segundo gol lá pelos 40 e poucos minutos do segundo tempo, Galvão Bueno esqueceu de narrar o jogo e desandou a fazer - em tom solene - um discurso de defesa do trabalho realizado pelo Parreira. E ficou nessa toada até que aos 48 minutos, sobrou uma bola na área da Argentina, Adriano matou, virou, meteu no canto do goleiro e pegou o experiente Galvão Bueno no susto, literalmente. :))))))))))
Aliás, nos jogos que vi nessa Copa América as justificativas para o desempenho do time brasileiro e as defesas para o trabalho de Parreira foram uma constante no script do narrador número 1 da Globo. Ele até se preocupou em doutrinar o comentarista Casagrande, crítico do estilo Parreira, para que ele reconhecesse as virtudes do treinador.

Plantão Coluna Extra: Brasil ganhou nos penaltis. E agora o discurso de defesa ganhou um argumento mais forte e um tom de voz mais empolgado. “Acaaaabôôôôôô!!!! Os meninos do Brasil!!!!”

sexta-feira, 23 de julho de 2004

Afinidades

Nos últimos dias, houve uma grande aproximação e interação entre blogueiros aqui de Florianópolis. Além de visitas e comentários, recentemente os blogs viraram pauta de programa de TV (o Falando Abertamente, na TV Com) e do caderno Donna, do Diário Catarinense, principal jornal do estado).
Mas tão importante quanto esses “links” entre blogueiros de uma mesma cidade é o fato de que há uma afinidade também quanto ao conteúdo dos blogs. Mesmo que a abordagem parta de uma situação pessoal, muitos textos acabam direcionados para questões envolvendo o perfil da cidade, as mudanças, a saudade de outros tempos.
E isso me fez pensar: alguma coisa de muito errado está acontecendo com a cidade. Algo que destoa e faz muita gente sentir a necessidade de reviver coisas boas que tínhamos aqui no passado. Em ano eleitoral, digamos que essa seja uma boa pulga para deixar atrás da orelha até o momento de apertar o botão verde de confirma.

terça-feira, 20 de julho de 2004

Rede Blog

Acabei de colocar na coluna ao lado uma lista de links para outros blogs. Aproveite o passeio. E volte sempre.

segunda-feira, 19 de julho de 2004

Bola na rede, grito de gol

A leitura do livro sobre Osmar Santos me fez lembrar do quanto sempre gostei de ouvir transmissões e programas esportivos no rádio. Sintonizava a Globo de São Paulo (para ouvir Osmar Santos), mas também ouvia a Tupi e a Globo, do Rio de Janeiro, a Record, de São Paulo, e a Gaúcha, de Porto Alegre.
Mas gostava mesmo era de ouvir a Rádio Guarujá. Meu pai sempre fala da programação da Jornal A Verdade, que nos anos 70, tinha uma equipe forte e pelo menos um programa que entrou para a história dos avaianos. Foi no Zero Hora Esportiva, apresentado por Miguel Livramento e Carlos Alberto Campos (se não me engano), que Fernando Bastos, autor da letra, e Luiz Henrique Rosa, autor da música, apresentaram pela primeira vez o então recém-composto hino do Avaí. “Na ilha formosa, cheia de graça...”. 
Mas quando comecei a ouvir rádio, a emissora de maior destaque na cobertura esportiva era a Guarujá. E lembro que saía da escola e ia para casa com pai no nosso Fusca ouvindo a Vanguarda Esportiva, que existe até hoje na Guarujá, sempre ao meio-dia, e que na época era apresentado por Miguel Livramento e Luiz Osnildo Martinelli. Eu gostava ainda mais de ouvir as transmissões, especialmente quando ia para o Adolfo Konder com meu pai.
A gente ficava no canto da arquibancada perto dos eucaliptos, de radinho ligado. Eu procurava os repórteres de campo (Walter Souza, Hélio Costa, Nei Padilha...) e ficava ouvindo a narração. E naquela época a Guarujá em algumas partidas fazia um lance que nunca entendi direito. O primeiro tempo era narrado por um, o segundo por outro (o livro sobre o Osmar Santos conta que isso acontecia também nas rádios de São Paulo meio que para manter os egos equilibrados).
Naquela época eu gostava de ouvir o Miguel Livramento, o narrador da moda, até porque era mais narrador do que comentarista (e na época as paixões por Avaí ou Figueirense eram mais enrustidas). Tinha ainda o Adilson Sanches, que está hoje na rádio Santa Catarina, e o meu preferido, o falecido Murilo José.
Anos depois, fui saber que o narrador da camisa amarela, como Murilo era chamado, torcia para o Figueirense. Mas para mim isso nunca fez diferença. Sempre achei a narração dele muito boa, precisa e empolgante. Ainda não apareceu nenhum outro como ele no rádio de Florianópolis. Para quem não sabe, Carlos Eduardo Lino (comentarista RBS) e de André Lino (repórter da Guarujá) são filhos de Murilo José.
E para completar esse momento de lembranças do futebol na Guarujá, gostava dos comentaristas daquela época: Brígido Silva e Mário Inácio Coelho (que também escrevia no jornal O Estado).
Toda essa minha paixão pelo rádio esportivo já rendeu um projeto para um livro dedicado ao assunto. Um dia pretendo escrevê-lo. Mas se alguém quiser se adiantar e resgatar tantas histórias, fica a sugestão: Bola na rede, grito de gol - o rádio esportivo de Florianópolis de ontem e de hoje.

Ripa na chulipa

Durante o fim de semana li Osmar Santos - O milagre da vida, a biografia do maior narrador esportivo do rádio brasileiro. Osmar sofreu um acidente automobilístico no final de 1994 e, mesmo tendo uma recuperação surpreendente, não pôde retomar sua carreira por causa dos danos causados em seu cérebro que praticamente lhe tiraram a capacidade de falar (trágica ironia).
Felizmente, tive a oportunidade de ouvir, num velho rádio Philips, Osmar narrando pela rádio Globo, de São Paulo. E era realmente empolgante. Era um narrador preciso, mas acima de tudo bem-humorado e cativante. Como ficar indiferente ao ouvir expressões como “pisou no tomate”, para identificar uma jogada ruim, ou a clássica “ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”, que indicava o momento do chute ao gol? Sem falar no mais famoso grito de gol do rádio do Brasil: “Iiiiihhhh quiiiiiiiiii gooooolllllll!!!!”.
No sábado, quando comecei a leitura do livro, no sábado pela manhã, estava ouvindo o Jornal da CBN e aquela edição foi encerrada com uma homenagem aos 10 anos do Tetra. E para marcar a data, a CBN, que pertence ao Sistema Globo de Rádio, reproduziu todas as cobranças de penaltis entre Brasil e Itália na final de 1994, na narração dele, Osmar Santos. Emocionante. Ainda mais pelo fato de que o destino (palavra muito citada no livro) permitiu que o melhor narrador do rádio brasileiro tivesse a possibilidade de transmitir a vitória do Brasil em uma Copa do Mundo. Meses depois, Osmar não seria mais o mesmo.
 
(Osmar teve passagens pela TV como narrador da Copa de 1986 pela Globo, onde também apresentou um programa de auditório, assim como na extinta TV Manchete. Também ficou marcado como o mestre de cerimônias das manifestações da campanha das Diretas Já.)

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Pelé eterno enquanto...

Estava me programando para assistir Pelé Eterno neste fim de semana, com meu filho. Mas esqueci que moro em Florianópolis e que quando um filme entra em cartaz por aqui é preciso correr, enfrentar longas filas nos primeiros dias de exibição. Só assim para evitar a decepção que sofri hoje ao consultar a programação e ver que o documentário sobre o maior ídolo do futebol mundial ficou apenas 2 semanas em cartaz!!!
Já escrevi aqui sobre a falta de opção para quem mora na Grande Florianópolis e gosta de cinema. Tirando o cinema do CIC, do Cine York e do Cine Clube Terra do Sol, que oferecem uma programação mais alternativa, a região conta apenas com 3 salas no Beiramar Shopping e 3 no Shopping Itaguaçu. E as 6 pertencem ao mesmo distribuidor.  Tem muita gente torcendo para que o novo shopping, em construção na SC-401, fique pronto logo para que o monópolio seja finalmente quebrado. Eu, por enquanto, torço para que Pelé Eterno volte ser exibido por aqui, no CIC ou até mesmo em uma das salas dos shoppings (pára de sonhar, Alexandre!!!). 

quinta-feira, 15 de julho de 2004

Falando em Primeiros Passos...

“Jornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens. Entrar no universo do jornalismo significa ver essa batalha por dentro, desvendar o mito da objetividade, saber quais são as fontes, discutir a liberdade de imprensa no Brasil”.

Texto da contracapa do livro O Que é Jornalismo, escrito pelo jornalista Clóvis Rossi para a coleção Primeiros Passos (Editora Brasiliense), publicado originalmente em 1980 (a edição que tenho em casa é a 10ª, de 1994).

Primeiros Passos

Não ando sozinho
Não soltei a mão
Não li todos os livros
Nem completei minha coleção
Primeiros passos
Não sou criança
E é tão fácil
Gritar: Independência!

Primeiros passos
Não sou criança
E é tão fácil
Gritar: Independência!
E é tão fácil
Muito fácil gritar:
Me ajude...

Eu tenho as minhas pernas
Sei para onde ir
Espero ter sua mão
No dia em que eu cair


“Primeiros passos” é letra de uma música que escrevi depois de uma arrumação na estante de livros, onde encontrei alguns exemplares da famosa coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense. E, obviamente, a letra fala de experiência, independência, dependência...

terça-feira, 13 de julho de 2004

A Ponte

Dias desses escrevi sobre os comentários dos blogs do Valente e do Damião sobre as negociações envolvendo os jornais A Notícia e O Estado. E enquanto escrevia comecei a lembrar do jornal A Ponte. Lembrei porque nas páginas centrais do jornal havia um colunão chamado Zum-Zum-Zum, com muitas notinhas sobre o que acontecia nos veículos de comunicação da cidade. Era mais ou menos o que os blogs estão fazendo no episódio O Estado / A Notícia. Bem informado. Não lembro se era assinada por alguém. Acho que não.

Pequenas lembranças
Editado pelo Lunardelli, A Ponte tinha distribuição gratuita. Era só pegar um exemplar na Livraria Lunardelli ou na Estudandil ali na rua Victor Meirelles. Não lembro quando A Ponte parou de circular, mas lembro que quando estudava no Antonieta de Barros, na esquina da Saldanha Marinho com a Victor Meirelles, dava uma passada em uma das livrarias e pegava um exemplar. Era de graça...Tinha uns 8 anos na época e lia a Zum-Zum-Zum, por exemplo, porque estava interessado em rádio na época (era ouvinte assíduo da programação esportiva da rádio Guarujá). Em A Ponte, lembro de ter lido a coluna do Polidoro, do Silveira Júnior, do Samuca e as tirinhas do Biguá. Saudades de A Ponte.

segunda-feira, 12 de julho de 2004

13 de julho, Dia Mundial do Rock

Para marcar o Dia Mundial do Rock, comemorado nesta terça-feira, reproduzo abaixo a entrevista que fiz com o jornalista e pesquisador Marcelo Fróes e publiquei na newsletter Alex Informa, que produzi entre 2000 e 2001 (outro dia falo mais dessa minha experiência profissional).
Autor do livro Jovem Guarda - Em Ritmo de Aventura (Editora 34), Fróes analisa na entrevista a seguir a importância do movimento que lançou Roberto e Erasmo Carlos para a criação de uma cultura jovem no Brasil. E sob esse aspecto, a inclusão do jovem como peça-chave do mercado consumidor. Fróes também analisa a equação música-jovens-mercado nas décadas seguintes à Jovem Guarda.


ALEX INFORMA - Você considera que a Jovem Guarda representa a inserção do público jovem no mercado consumidor brasileiro?

MARCELO FRÓES - Sim, com certeza a Jovem Guarda – desde a pré-Jovem Guarda de Celly Campello, na verdade - foi o primeiro grande momento em que o público jovem teve cultura pra consumir. Mas, de certa forma, também foi assim porque coincidiu com o avanço da tecnologia de áudio - com o surgimento dos primeiros aparelhos hi-fi, além dos velhos e quebradiços bolachões de 78 RPM terem dado lugar aos compactos de 33 e 1/3. Os LPs começaram a ser prensados em vinil mais resistente e em estéreo.

ALEX INFORMA - Que iniciativas ligadas à criação e a promoção do Movimento Jovem Guarda, você destaca como as mais importantes?

FRÓES - A conjugação de programa de televisão com disco na loja foi fundamental, pois era sinal verde para execução em rádio. Com esses três elementos, a Jovem Guarda estabeleceu-se sem depender de uma coisa: da mídia escrita. Assim, independentemente de crítica favorável (que não existia), os artistas firmaram-se. Com o final do programa, derrubou-se um forte alicerce. Aos poucos, Perderam espaço em rádio. Ainda assim, a
Jovem Guarda continua vendendo discos. Todos que lançam vendem, e um exemplo foi o sucesso da série de 25 CDs lançada pela Sony - com os LPs originais de Renato e seus Blue Caps, Jerry Adriani, Wanderléa, Leno & Lilian e muitos outros, que produzi em 1998 e que vendeu mais de 100 mil peças. Tanto que em 2000 a série desdobrou-se em 24 títulos duplos (48 CDs!).

ALEX INFORMA - De lá para cá, como você avalia a participação dos jovens em movimentos ligadas à música, nos anos 80, por exemplo?

FRÓES - Após um período estranho para a música nos anos 70 - quando prevaleceu a MPB engajada na política, não necessariamente falante ao jovem, além da disco-music que era mais dança que música -, o jovem brasileiro descobriu que o rock não tinha cara de bandido no início dos anos 80, quando surgiram nomes como Leo Jaime, Lulu Santos e Blitz. Da mesma forma como nos anos 60, jovens que não sabiam tocar instrumentos começaram a agrupar-se em grupos que - descobertos pelas gravadoras - eram contratados por qualquer motivo, numa época em que ainda se lançava compactos no Brasil. Então foi uma quantidade enorme de lançamentos e de bandas que em nada deram, mas em compensação muitos dos que começaram sem saber nada de música logo aprenderam e estabeleceram-se definitivamente.

ALEX INFORMA - E nos anos 90, com a chegada da MTV? A indústria da música se profissionalizou demais? Quem manda mais nas gravadoras: diretor de marketing ou o diretor artístico?

FRÓES - O artístico não vai muito longe sem a assinatura do marketing. Mas, de qualquer forma, estes dois também dependem de uma assinatura que tornou-se fundamental quando, após a empolgação do Plano Real em 1994/1995, todos caíram na real: a do diretor de vendas que dita o que vai vender. Ou seja, é o diretor de vendas que diz aquilo que seu departamento arrisca-se em tentar colocar nas lojas.

Kajuru numa TV de Floripa?

Nota na coluna Outro Canal, da Folha de S. Paulo, diz que Jorge Kajuru está negociando com uma emissora de TV aqui de Florianópolis.

quinta-feira, 8 de julho de 2004

All you need is Love

Com Galvão Bueno, carência não tem vez. Por isso, na ausência dos Rrrrrronaldos e do Roberto "lá vem a bomba" Carlos na Copa América, Galvão já no primeiro jogo contra o Chile elegeu Vágner Love como a bola da vez.

Durante toda a partida, que terminou agora há pouco, Galvão ficou pedindo a entrada do ex-atacante do Palmeiras. "Queria ver o Vágner Love nesse time", repetia, embasado em bons argumentos até: a dupla de ataque Adriano e Luís Fabiano não estava jogando nada, e Love foi o goleador de todos os treinos.

Mas, para supresa de Galvão, quem acabou entrando no ataque foi Ricardo Oliveira, no lugar de Adriano. "Essa eu não entendi", exclamou. Mas a mexida de Parreira, incoerente na visão do narrador da Globo, acabou melhorando um pouco o ataque brasileiro. Fim de jogo, 1 a 0 com gol de Luís Fabiano. O Love ficou para a próxima.

Vendo coisas

Já estou vendo coisas
São os meus filhos cuidando de mim
Ah, se eu tivesse menos idade
Mais saúde ou algo assim
Ah, se eu tivesse a sua idade
Ou se sua saúde coubesse em mim

Horas são e forte
Outras horas eu não sei
Nomes, pessoas, lugares, fatos
Que eu não lembrei
Mas daqui a pouco vou lembrar

Coloque o seu dedo entre os meus dedos
E aprenda um truque
Do lado da venda, na boca da rua
Onde tudo se discute
Me desculpe, já é hora de chegar

Vou subir a escadaria
Vou chegar em casa cedo
Vou subir a escadaria
Vou chegar em casa cedo
Antes do fim do dia
Antes do sol partir eu vou chegar

Já não estou vendo coisas
São os meus filhos cuidando de mim


"Vendo coisas" é letra de uma música que escrevi nos últimos momentos de vida de meu avó, Manoel, há cerca de 13 anos. Escrevi a partir do que meus pais falavam do estado de saúde dele no hospital (os lapsos de memória...). E serve de homenagem ao relembrar lugares (“lado da venda, boca da rua”) e situações (o truque com os dedos) que vivi com ele. A escadaria citada fica na rua Clemente Rovere, aquela perto do Instituto Estadual de Educação, onde tem um posto Texaco na esquina, onde meu avó morava e onde nasci e morei até os 8, 9 anos.

quinta-feira, 1 de julho de 2004

Uma década

Exatamente hoje, dia 1º de julho, completo dez anos de carteira assinada. Dez anos de jornalismo. Dez anos de Editora Empreendedor (entrei como secretário de redação da revista Empreendedor, passei a chefe de redação da mesma revista, depois fui editor-executivo da revista Dirigente Lojista, editor-executivo da revista Jovem Empreendedor, e atualmente sou editor-executivo da revista Empreendedor e do Guia Oficial de Franquias). E por seis anos, de 1996 a 2002, fiz jornada dupla como assessor de imprensa da APUFSC (Sindicato dos Professores da Universidade Federal de Santa Catarina).
A correria é tanta que não tive tempo de fazer um balanço desses dez anos de profissão. Mas mesmo com muitas dificuldades e obstáculos no transcorrer do período, posso dizer que o saldo é positivo. O jornalismo me proporcionou bons momentos, é uma profissão pela qual me apaixonei e que jamais pensei em largar. E no momento estou aqui pensando que em vez de revirar a memória, o melhor é pensar (e agir) no presente, de olho no futuro, descobrindo nichos e concretizando novos e antigos sonhos.
De mais a mais, a todos os colegas que conviveram comigo nesses dez anos, gostaria de agradecer a paciência, a parceria e a dedicação com que dividiram responsabilidades profissionais comigo. Ainda temos muitos anos de bom jornalismo pela frente.

Poeira

A imagem do jogo final da Copa do Brasil, ontem, foi a matada de canela do atacante Jean, do Flamengo, ainda no primeiro tempo. E o mais engraçado é que a Globo, especialmente, tratou a vitória do Santo André como um grande absurdo, tipo "como é que pode um time da segunda divisão derrotar o Flamengo no Maracanã"... Como se o Flamengo fosse um supertimaço, quando, na verdade, é uma marca e um integrante do elenco fixo da Globo, nada mais. E aquela parada do Felipe...ridículo! Que utilidade tem aquilo? E dizem que a Ivete Sangalo estava aquecendo o gogó pra entrar em campo no fim do jogo pra festa do Flamengo pra cantar a música da poeira.
"Poeira, poeira, poeira, Mengão comeu poeira..."