Para marcar o Dia Mundial do Rock, comemorado nesta terça-feira, reproduzo abaixo a entrevista que fiz com o jornalista e pesquisador Marcelo Fróes e publiquei na newsletter Alex Informa, que produzi entre 2000 e 2001 (outro dia falo mais dessa minha experiência profissional).
Autor do livro Jovem Guarda - Em Ritmo de Aventura (Editora 34), Fróes analisa na entrevista a seguir a importância do movimento que lançou Roberto e Erasmo Carlos para a criação de uma cultura jovem no Brasil. E sob esse aspecto, a inclusão do jovem como peça-chave do mercado consumidor. Fróes também analisa a equação música-jovens-mercado nas décadas seguintes à Jovem Guarda.
ALEX INFORMA - Você considera que a Jovem Guarda representa a inserção do público jovem no mercado consumidor brasileiro?
MARCELO FRÓES - Sim, com certeza a Jovem Guarda – desde a pré-Jovem Guarda de Celly Campello, na verdade - foi o primeiro grande momento em que o público jovem teve cultura pra consumir. Mas, de certa forma, também foi assim porque coincidiu com o avanço da tecnologia de áudio - com o surgimento dos primeiros aparelhos hi-fi, além dos velhos e quebradiços bolachões de 78 RPM terem dado lugar aos compactos de 33 e 1/3. Os LPs começaram a ser prensados em vinil mais resistente e em estéreo.
ALEX INFORMA - Que iniciativas ligadas à criação e a promoção do Movimento Jovem Guarda, você destaca como as mais importantes?
FRÓES - A conjugação de programa de televisão com disco na loja foi fundamental, pois era sinal verde para execução em rádio. Com esses três elementos, a Jovem Guarda estabeleceu-se sem depender de uma coisa: da mídia escrita. Assim, independentemente de crítica favorável (que não existia), os artistas firmaram-se. Com o final do programa, derrubou-se um forte alicerce. Aos poucos, Perderam espaço em rádio. Ainda assim, a
Jovem Guarda continua vendendo discos. Todos que lançam vendem, e um exemplo foi o sucesso da série de 25 CDs lançada pela Sony - com os LPs originais de Renato e seus Blue Caps, Jerry Adriani, Wanderléa, Leno & Lilian e muitos outros, que produzi em 1998 e que vendeu mais de 100 mil peças. Tanto que em 2000 a série desdobrou-se em 24 títulos duplos (48 CDs!).
ALEX INFORMA - De lá para cá, como você avalia a participação dos jovens em movimentos ligadas à música, nos anos 80, por exemplo?
FRÓES - Após um período estranho para a música nos anos 70 - quando prevaleceu a MPB engajada na política, não necessariamente falante ao jovem, além da disco-music que era mais dança que música -, o jovem brasileiro descobriu que o rock não tinha cara de bandido no início dos anos 80, quando surgiram nomes como Leo Jaime, Lulu Santos e Blitz. Da mesma forma como nos anos 60, jovens que não sabiam tocar instrumentos começaram a agrupar-se em grupos que - descobertos pelas gravadoras - eram contratados por qualquer motivo, numa época em que ainda se lançava compactos no Brasil. Então foi uma quantidade enorme de lançamentos e de bandas que em nada deram, mas em compensação muitos dos que começaram sem saber nada de música logo aprenderam e estabeleceram-se definitivamente.
ALEX INFORMA - E nos anos 90, com a chegada da MTV? A indústria da música se profissionalizou demais? Quem manda mais nas gravadoras: diretor de marketing ou o diretor artístico?
FRÓES - O artístico não vai muito longe sem a assinatura do marketing. Mas, de qualquer forma, estes dois também dependem de uma assinatura que tornou-se fundamental quando, após a empolgação do Plano Real em 1994/1995, todos caíram na real: a do diretor de vendas que dita o que vai vender. Ou seja, é o diretor de vendas que diz aquilo que seu departamento arrisca-se em tentar colocar nas lojas.
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