Ainda que esteja cada vez mais freqüente na mídia e na planilha de investimentos de empresas - também no Brasil -, o Second Life ainda é um mistério para muitos. Desvendar os mistérios da “segunda vida” é o objetivo do livro Second Life - Guia de Viagem (Novatec, 240 páginas, R$ 49,00), de Edgard B. Damiani. “A motivação inicial para escrever o livro foi ensinar os primeiros passos para todos aqueles que queiram entender e ingressar neste novo paradigma”, diz o autor. “A idéia é ser abrangente, sem ter a pretensão de esgotar um sistema que recebe adições e modificações praticamente toda semana”.
Em entrevista exclusiva ao Coluna Extra, Damiani avalia aspectos como o uso do SL como mídia, o empreendedorismo em ambiente virtual e o perfil dos que já vivem sua “segunda vida”.
Coluna Extra - Como você avalia o Second Life antes e depois de virar uma mídia para grandes empresas?
Edgard B. Damiani - A entrada de grandes empresas no Second Life servirá como uma prova de fogo para o sistema. Hoje as grandes empresas usam-no como espaço de publicidade, tal como era feito com a World Wide Web há dez anos, mas em breve elas vão começar a exigir mais do ambiente, levando o Second Life aos seus limites extremos. Se o sistema conseguir responder aos anseios corporativos, ele terá vida longa. Não podemos olhar o Second Life simplesmente do ponto de vista utópico que os residentes mais antigos insistem em sustentar. Essa utopia é aparente, elitista e revestida de orgulho. A adesão das grandes empresas trouxe muita propaganda para o próprio Second Life, atraindo cada vez mais pessoas curiosas para conhecer este novo mundo. Isso é muito bom, porque a tecnologia 3D chegou para ficar e o Second Life é um aperitivo do que a Internet será daqui a alguns anos.
Coluna Extra - Quem consegue lucrar no Second Life? Como você define um empreendedor no SL?
Damiani - É preciso deixar claro que a história da tal chinesa que vive de negociação de terras no Second Life é um caso raro e excepcional. A economia do sistema ainda é predominantemente local. Então, é preciso tomar muito cuidado em achar que é só criar uma versão virtual da empresa que o dinheiro virá. O momento atual é de prospecção - nenhuma das grandes empresas está aderindo ao Second Life com o intuito de lucrar com vendas diretas a curto prazo. Estão sondando o sistema, explorando suas virtudes atuais, experimentando e criando novos meios de interação com seu público-alvo. Como eu disse na questão anterior, as possibilidades de lucro dependerão da capacidade do Second Life de se adequar às necessidades das empresas.
Não há muita diferença na definição de empreendedores reais e virtuais. No entanto, o perfil atual do empreendedor no SL é mais técnico, voltado para a Computação Gráfica, pois a maior parte das oportunidades de serviço estão relacionadas à modelagem 3D, texturização e programação de scripts. Com a popularização do sistema, este perfil tende a mudar. Um exemplo é a recente contratação de avatares pelo Estadão para preencher uma vaga de repórter e outra de estágio em Relações Públicas.
Coluna Extra - Qual o perfil dos participantes do Second Life? Ainda é mais para “iniciados”?
Damiani - As primeiras pesquisas para conhecer o perfil do usuário do SL ainda estão sendo feitas, mas já podemos afirmar algumas coisas. Em primeiro lugar, parece que o apelo do SL é maior entre adultos. Em segundo lugar, o Second Life está absorvendo o público do Orkut e do MSN (pessoas que dão um enfoque maior aos relacionamentos pessoais). Em terceiro lugar, cada vez mais empresários da vida real estão experimentando o ambiente virtual para saber o que podem tirar de proveito dele. Os “iniciados”, ou seja, pessoas que já utilizam o Second Life há mais tempo, devem entender que há espaço para todos e que a tendência é essa mesma, a popularização do sistema. Outro ponto interessante: vários estrangeiros com quem conversei dentro do SL tinham mais de 40 anos.
Coluna Extra - Que risco o Second Life corre com essa maior exposição? Ou isso traz mais benefícios?
Damiani - Uma coisa é certa: uma maior exposição de um sistema sempre acaba trazendo à tona seus defeitos. Isso aconteceu, por exemplo, com os navegadores de internet que, no início, sofreram muito com as questões de segurança (e ainda sofrem!). Muita gente ainda vai reclamar que o sistema é lento, inseguro, que faz apologia à alienação, às fugas psicológicas, etc.. No entanto, o que as pessoas sempre se esquecem é que o ser humano faz o meio em que vive, e não o contrário. Se a massificação do Second Life faz surgir novos problemas, é claro que as medidas necessárias à sua solução devem ser tomadas, mas o centro da questão continua sendo o ser humano.
O Second Life só tem a ganhar com a sua massificação, mas é preciso que qualquer traço de ingenuidade que porventura ainda exista por parte de seus desenvolvedores e dos residentes seja eliminado. O Second Life deve deixar de ser uma utopia para se tornar uma extensão da vida real, assim como aconteceu com a internet em si. Claro que sempre existirá espaço para o sonho, mas o fortalecimento dos laços entre as duas realidades deverá ser a tônica do Second Life, caso queira continuar atraindo novos avatares e transformando os reveses em benefício próprio.
Tags: Second Life
Tu viu que a Futuro lançou uma revista só sobre Second Life? Não sei o nome exato da publicação nem a periodiciodae, mas dei uma folheada esses dias na banca e a pauta pareceu bem interessante.
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