por Linete Martins
É preciso “amar la trama más que al desenlace” para viver com intensidade. Esse forte (mas sutil) pulsar, que deixa a vida mais linda e rara, foi o ingrediente latino na noite de sexta-feira (10), no show que o uruguaio Jorge Drexler arrebatou a platéia presente no Teatro Ademir Rosa, em Florianópolis. Talvez pensando em “sin esperar que algo pase”, o artista deixa que todos vejam como é estar em um lugar e apropriar-se do que há de bom. Para depois devolver, em forma de letras e harmonias, e emocionar a gente.
Aqui na Ilha foi assim, em sua breve passagem. Uma foto de braços abertos na ponta de um trapiche, indicando a imensidão do mar, mostra um homem simples, curtindo o lugar que já conhecia - a imagem foi postada domingo em sua página pessoal no Twitter. Nas águas daqui, já surfou na juventude, como contou na conversa com a platéia, entre uma música e outra.
Assista dois momentos do show, publicados no YouTube.
Jorge Drexler parece ser daqueles que respiram música e, por consequência, fez dela seu ofício, deixando de lado a carreira na medicina. Ficou conhecido internacionalmente após ganhar o Oscar, em 2005, com a canção “Al outro lado del rio” (também no repertório do show). É a melodia que embala as aventuras do então jovem (médico também) Ernesto Che Guevara, na América Latina, no filme Diários de Motocicleta, dirigido pelo brasileiro Walter Salles. Como nada é perfeito, na festa comercial do cinema norte-americano, a canção foi apresentada na voz do ator-galã espanhol Antônio Banderas. Mas isso já é outra história...
Com a simpatia dos que não se afetam, Jorge Drexler recebeu a mim e mais três jornalistas amigas (Angelita Corrêa, Adriane Canan e Vanessa Pedro), nos bastidores do CIC, logo após a apresentação, a convite da produtora Eveline Orth. Ainda embriagadas pelo lindo show, conversamos “un poco de todo con el”. Sobre seu repertório, sobre as experiências que fez no palco com pesquisa e tecnologia, sobre a Ilha, sobre a Espanha (ele mora em Madri). Brincando e sem parecer que havia ficado praticamente duas horas no palco, cantarolou em francês “La vie en rose” – a vida cor de rosa imortalizada na voz de Edith Piaf. Sim, foi um privilégio para os que estavam ali.
E falou de uma vontade: queria ir a um lugar para ouvir samba. Falamos de algumas possibilidades em Floripa. Por recomendação, achou um bom lugar. Um vídeo postado nesta segunda nas redes sociais mostra ele no Barraco do Neco, na Ponta do Sambaqui. Ao lado de músicos de valor como Luiz Meira, o compositor aparece feliz, ensaiando passos de samba e cantando a bossa nova de João Gilberto: “Rosa, morena / Aonde vais morena Rosa? / Com essa rosa no cabelo e esse andar de moça prosa...”
Asissta ao vídeo.
Como é clean e agradável esse moço, que encantou a gente. Nada de luz de farol sobre ele. O seu brilho é elegante, onde sobressai o talento. Como a iluminação bonita e delicada – às vezes quase intimista - no palco do CIC na sexta-feira. Pensei nas palavras da Vanessa Pedro, dias atrás. Que a leveza necessita de um lugar.
Drexler é tão simples como o país em que ele nasceu. E viva os uruguaios!! besos, Linete.
ResponderExcluirDuda Hamilton
Sim, Duda Hamilton. Intenso, simples e encantador. Como o nosso Uruguay do coração. Besos.
Excluir