A propósito do post Vinho do Pan?, a jornalista Nara Franco, do Rio de Janeiro, me enviou a seguinte pergunta:
Eu até entendo o seu questionamento em relação ao lançamento do vinho, mas por que realizar o Pan no Brasil é desnecessário?
Por e-mail, respondi que não acho que o país esteja preparado para sediar eventos como Pan-americano ou Copa do Mundo. Existem outras prioridades não só, mas especialmente no Rio, é claro. E esses eventos são um saco sem fundo, com muito dinheiro público usado sabe-se lá como. Não vejo o evento como uma promoção para o país. E ainda que seja “consumidor” de esportes, realmente acho desnecessário para o país sediar o Pan.
Em resposta, Nara enviou nova mensagem, que reproduzo abaixo, com sua visão - a visão de quem acompanha os preparativos de perto - sobre a realização dos jogos.
Alexandre,
Acho que nós brasileiros temos esse eterno pessimismo em relação ao Brasil. É claro que motivos não faltam. Mas se não tentarmos ao menos mudar essa situação, seremos sempre o “país do futuro”. Pior do que ser um país pobre é ter mentalidade de país pobre. Se duvidarmos sempre da nossa capacidade, fica complicado mudar o que aí está. Eu acho extremamente necessário que Rio, São Paulo e outras cidades briguem por eventos esportivos de grande porte. Eles geram emprego, desenvolvimento e as melhorias que eles trazem ficam para a população.
Veja o caso, por exemplo, da Vila do Pan. Construída em uma área antes deserta, teve seus apartamentos vendidos em menos de 48h. Os atletas irão embora, mas os apartamentos ficarão. No entorno já surgiram shoppings, lojas, restaurantes... Assim como o Engenhão, um estádio super moderno construído no meio de uma área degradada que hoje já passa por um processo de revitalização.
O evento é sim uma promoção de imagem para o país e é importante mostrar ao mundo que temos condições de entrar na briga por uma Olimpíada ou Copa do Mundo. Pense em Barcelona antes de 1992 e depois.
O país tem outras prioridades? Claro. Não se pára de investir em saúde, educação, estradas, etc., por causa do Pan. Não estamos falando de fatos excludentes.
Acho que temos erros e acertos na organização do Pan. Ele está mal divulgado, as pessoas não têm essa percepção de perenidade das obras, falta mobilização. Mas há acertos. Há uma reforma em andamento no Maracanã, empacada há anos. Há a revitalização de uma área do Recreio que ninguém nem se atrevia a ir. Há uma maior atenção ao esporte em si...enfim...acho que temos que provar para nós mesmos que temos capacidade.
Tags: Pan2007
Tudo muito lindo, mas pago com dinheiro público e aí está o erro.
ResponderExcluirQuerem investir no pan, ótimo, mas com dinheiro privado, pois assim foi fundo sem fim de corrupção.
Querem investir na copa do mundo, que seja com dinheiro privado, pois esse argumento das vantagens é retórica de quem está se beneficiando com a farra do dinheiro público. Afinal, como uma reforma do Maracanã pode custar mais caro que um estádio novo de Leipzig na Alemanha? Com esse discurso estamos provando nossa grande capacidade de manter a aparência, e a completa incapacidade de encarar que isso, o pan, um copa, uma olímpiada, só serve ao interesse de corruptos e a alegria de desavisados.
Victor Carlson
victorcarlson.blogspot.com
Dinheiro público
ResponderExcluirNada menos do que R$ 3 bilhões em dinheiro público é o valor que União, Governo do Estado e Prefeitura terão gasto em obras de infra-estrutura quando tudo estiver pronto para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Uma maravilha. Mas o sus, os presídios, as estradas e a segurança, uma vergonha sem fim. Tudo uma questão de prioridade, de aparência e muita cara de pau.
Estive no Rio no fim do ano passado e vi o quanto as obras estao revitalizando a cidade. Esporte é investimento, não gasto (inclusive em educação, de forma indireta). Esses eventos movimentam a economia e são sempre superavitários, no fim das contas. Espero que dê tudo certo e tenhamos futuramente uma copa e uma olimpíada no Brasil....
ResponderExcluirhttp://narizgelado.apostos.com/
ResponderExcluirdomingo, 18 de fevereiro de 2007
O pior espetáculo da Terra
Na madrugada da última sexta-feira, um rapaz sofreu um acidente de moto no túnel Zuzu Angel, no Rio de Janeiro. Não bateu em ninguém e nem levou qualquer fechada de outro veículo. Simplesmente caiu por falta de visibilidade - o túnel estava às escuras porque suas lâmpadas haviam sido roubadas.
Levado às pressas, como todos os acidentados do Rio, para o Hospital Municipal Miguel Couto, foi diagnosticado com afundamento da base do crânio e edema cerebral. A UTI do Miguel Couto, porém, - que já foi referência para politraumatizados - não dispunha do PIC, o aparelho que monitora a pressão cerebral. Como o estado do paciente não permitia a sua remoção para outro hospital, um grupo de amigos, atendendo aos apelos desesperados do médico, adquiriu o tal aparelho - bem como outros medicamentos necessários, que o Miguel Couto simplesmente não tinha.
O relato acima me foi passado por uma amiga da família, leitora deste blog. Ela pergunta, justificadamente, pela tal intervenção federal nos hospitais, que Lula prometeu quando pediu votos aos cariocas. Também se questiona sobre o que vinha acontecendo com pacientes que, uma vez chegando ao Miguel Couto, não puderam contar com amigos para suprir a falta de equipamentos daquele hospital.
Já eu, que jamais me deixei iludir por Lula, apenas me pergunto se os milhares de turistas que vão ao Rio de Janeiro por ocasião do Carnaval sabem que, uma vez que necessitem de socorro médico, estarão às portas de morte. E mais: me pergunto se não é insanidade permitir que os Jogos Pan-americanos sejam sediados por uma cidade que não consegue, por um lado, impedir que a bandidagem roube as lâmpadas das vias públicas e, por outro, fazer a devida reposição quando isto acontece.