Dona Adelina - Coluna Extra

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Dona Adelina

Acabo de ler no DC Online que morreu, aos 82 anos, dona Adelina Hess de Souza, fundadora da Dudalina, maior camisaria da América Latina, sediada em Blumenau.

Tive a oportunidade de entrevistá-la, em julho de 1994. Foi minha primeira entrevista como jornalista profissional. Era secretário de redação da revista Empreendedor e meio que em cima da hora acabei escalado pelo Cesar Valente, meu chefe na época, para escrever o perfil de dona Adelina. E lá fui eu para Blumenau, acompanhado pelo fotógrafo Lauro Maeda, conhecer melhor a trajetória da mulher que teve 16 filhos e, ao lado do marido, o seo Duda, usou da criatividade para empreender.

Estou sem uma cópia do perfil aqui (e não está disponível na internet). Mas lembro que a entrevista aconteceu na sala da casa dela, tendo como cenário os quadros dos 16 filhos ainda pequenos. Na época, dona Adelina já não participava diretamente da Dudalina, que estava sendo tocada pelos filhos, como é ainda hoje. Mas ela falava com empolgação das suas paixões na época, aos 68 anos: o hotel-fazenda da família e a confecção de patchworking (que tinha acabado de criar e que funcionava nos fundos da casa).

De toda a conversa, o que mais chamou minha atenção foi a sacada que ela teve para iniciar a produção de camisas. Dona Adelina e seo Duda tinha um pequeno comércio em Blumenau e buscavam mercadorias em São Paulo. E ela sempre ia até a capital paulista para as compras. Um dia, dona Adelina não pôde viajar e lá foi o seo Duda, sozinho. Quando voltou, trouxe uns tecidos que não caíram no gosto da dona Adelina nem dos clientes. O que ela fez? Transformou o tecido em camisas e disso nasceu a Dudalina (Duda, de seo Duda, e lina, de Adelina).

Atualizado em 1 de novembro, às 11h55min - Cesar Valente publicou um post no De Olho na Capital onde reproduz imagens e um bom pedaço do perfil de dona Adelina, escrito por mim para a primeira edição da revista Empreendedor, publicada em agosto de 1994. Reproduzo abaixo o trecho inicial.

Honrando a camisa

Por Alexandre Gonçalves

Quando se tornam mães, a maioria das mulheres abre mão de trabalho, estudo e, muitas vezes, sonhos e ideais para cuidarem dos filhos. Mas dona Adelina Clara Hess de Souza ignorou completamente a tradição: teve dezesseis filhos e criou todos sem abandonar o sonho de transformar a Dudalina, uma pequena camisaria caseira, numa grande empresa. “Os meus irmãos sempre diziam que eu tinha tirado a energia deles”, diz. Com muito trabalho e determinação, ela conseguiu. A Dudalina é hoje a segunda maior indústria de camisas do Brasil, com quatro fábricas em Santa Catarina (nas cidades de Blumenau, Luís AIves, Lontras e Presidente Getúlio) e uma no Paraná (em Terra Boa). São quase 1.000 empregados, com estimativa, para este ano, de produção de 1,8 milhão de peças e de faturamento em torno de US$ 27 milhões.

A trajetória de sucesso de dona Adelina teve início ainda na adolescência, quando passou a trabalhar no armazém de secos e molhados dos pais, Leopoldo e Verônica, em Luís Alves, sua cidade natal. “Eu devia ter uns 15 anos na época”. Com dezoito anos, dona Adelina resolveu tirar o curso de corte e costura. Parecia prever o futuro que teria pela frente. Futuro que começou a ser desenhado um ano depois, em 1945, durante um comício da campanha do general Eurico Gaspar Dutra à presidência da República.

Foi neste ano que ela conheceu Rodolfo Francisco de Souza, o Duda, como era chamado desde os tempos de criança. No mesmo dia, eles planejaram a vida que pretendiam levar juntos – incluindo aí duas dezenas de filhos. Vieram dezesseis, onze homens e cinco mulheres. “Todos bonitos e saudáveis”, costuma dizer dona Adelina, quando alguém acha o número exagerado. Com um plano tão ousado, a história de Adelina e Duda só podia mesmo terminar em casamento. E foi o que aconteceu, em 1947. Dez meses depois, nascia o primeiro filho, Anselmo. Quase que ao mesmo tempo, o casal adquiriu o armazém de secos e molhados dos pais de Adelina, onde mais tarde nasceria a Dudalina.


Leia o post completo publicado pelo Cesar.

2 comentários:

  1. Oi, coloquei o trecho inicial da matéria lá no meu blog. Tenho a coleção das revistas do meu tempo. Se quiseres, te empresto.

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  2. Anônimo8:26 PM

    Belo texto, Alexandre. Parabéns. Li hoje a história da Dona Adelina enviada pela assessoria de imprensa deles e fiquei emocionado pela vida e obra desta empreendedora. Um exemplo inspirador e muito raro, particular.

    Outro fato a destacar é que, ao contrário de muitas empresas familiares, os filhos estão honrando a determinação de sua matriarca, expandindo seus negócios e criando empresas sólidas e de referência em Santa Catarina.

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